General Eanes uma excepção à regra?!
Caro General Ramalho Eanes, ultimamente o Portugal que serviu enquanto Presidente da República tem-se chocado com o aproveitamento que muitos membros da nossa classe politica interpretam.
Somos o país que 
consegue sentir o choque do ridículo mas que normaliza tais 
comportamento porque, como sabemos, “todos os políticos são iguais”.
Ficamos surpreendidos quando soubemos que em média, entre 2006 e 2013, os nossos governantes gastaram 295 euros por refeição. 
Ficamos admirados com a 
notícia de José Conde Rodrigues , ex-secretário de Estado da Justiça, 
que gastou 13.657 euros dos fundos públicos na compra de 729 livros para
 beneficio próprio.
Ficamos pasmados com o caso 
da ex-ministra da Saúde Ana Jorge, ao ter usado um cartão de crédito em 
nome do Estado (para despesas urgentes de trabalho) em lojas de roupa, 
ourivesarias ou no El Corte Inglés.
Ficamos boquiabertos com o 
ex-ministro da economia, Manuel Pinho, que recebeu 1 milhão de euros na 
sua Offshore depois de beneficiar a EDP em vários contratos de parceria.
Ficamos espantados, mais 
recentemente, com o ministro-adjunto deste executivo que embora advogado
 de elite disse desconhecer a lei que o impedia de acumular cargos 
públicos com outros cargos em empresas privadas.
Enquanto grande parte da 
nação ajoelha-se boquiaberta e volta a esquecer estes abusos, como se um
 anulasse o anterior, não consigo esquecer o Presidente da República que
 num período de grandes dificuldades financeiras, consta que vendeu a 
sua própria casa de férias para pagar os custos que a presidência não 
conseguia suportar. 
Não consigo deixar de 
relembrar o individuo que tinha apenas dois fatos e que recebia as 
visitas ao Palácio de Belém com um chá depois da hora de jantar, para 
evitar custos desnecessários. Esse foi o senhor.
Em julho de 2017 o país 
ficou a conhecer o caso dos três secretários de Estado que beneficiaram 
de viagens pagas pela empresa Galp, antes de ser aprovado um benefício 
fiscal em dezenas de milhões de euros à mesma empresa. 
José Sócrates defendeu que 
as críticas se tratavam de “um excesso de patriotismo”, considerando que
 as suspeitas sobre os governantes eram “estapafúrdias” e António Costa 
não hesitou em reforçar a “relevante e dedicada colaboração dos três 
Secretários de Estado nas funções desempenhadas no XXI Governo 
Constitucional”.
Em Abril de 2018 chegou a público
 os milhares de euros de que vários deputados beneficiaram ao receberem 
em duplicado o valor das viagens que faziam em “nome do interesse 
nacional”. 
Carlos César, líder parlamentar 
do partido socialista e parte desse grupo, logo declarou não se sentir 
culpado por não ter feito “nada de errado”, sendo que o “atual modelo 
vigora há décadas e foi utilizado por altos cargos do Estado”. 
Não esqueço o homem que 
RECUSOU receber 1 milhão de euros do erário publico, com o acumular de 
dezenas de anos sem receber a subvenção que tinha direito, após o 
parecer do Provedor de Justiça em 2008 ter defendido que todos os 
Presidentes deviam ser tratados de igual forma.
Deparamo-nos com um 
ex-primeiro ministro que fez da acção política o benefício dos seus 
interesses pessoais, onde até históricos como Arons de Carvalho defendeu
 não achar “reprovável uma pessoa viver com dinheiro emprestado”
Vivemos na realidade de vários 
governantes e parlamentares que acumulam os vencimentos com ajudas de 
custo e subvenções vitalícias, de dezenas de nomes da política que 
acabaram nas administrações de grandes Bancos e Grupos Económicos, uma 
Assembleia da Republica onde se misturam os escritórios de advogados e 
as grandes empresas com as leis que se aprovam e propostas, como a do 
grupo parlamentar do partido socialista a Janeiro deste ano, para tornar
 o lobby, a representação dos interesses de particulares nos corredores 
do poder, numa profissão reconhecida pela lei.
Aqueles que fazem da 
desaprovação o consentimento, esquecem-se que Portugal já teve como 
líder máximo um individuo que promulgou a lei que o impediria de 
acumular o salário presidencial com as restantes pensões a que teria 
direito, abrindo mão da pensão choruda de General. Só serviu os 
interesses de quem o elegeu e não de quem o tentou financiar.
Por isso, tenho orgulho em 
afirmar que por muito chocante que possa parecer, António dos Santos 
Ramalho Eanes, o primeiro Presidente da República democraticamente 
eleito após o 25 de Abril, é o anormal no meio de um panorama político 
podre que para muitos é a norma controladora.
Sei que o senhor não é 
perfeito e podemos até ter as nossas divergências ideológicas, mas pelo 
menos tenho a certeza de que nunca fez parte do grupo que se aproveita 
do poder para se apoderar dos recursos que pertencem apenas aos 
portugueses. 
É para mim uma honra recordar uma Nação inteira que se deprime com os muitos que a serve, de que nem “todos os políticos são iguais” e de que enquanto houver quem no senhor se inspire haverá sempre esperança.
Ao contrário do que alguns 
dirão, recordá-lo não é “estar preso ao passado” senão querer um futuro 
onde o mais simples português não tenha de voltar a justificar a miséria
 do país com os políticos que são “sempre iguais” e que insistem em “não
 mudar”.
Por muito mau que o presente possa parecer eu não o esqueço, senhor presidente.
Tenho dito.”
Gaspar Macedo 
