Um guarda Suíço faz a antevisão do discurso do Papa Francisco :
«Portugueses:
Sinto-me como o vosso sábio, Henrique, o Navegador, também eu navego nas águas procelosas da religião, sinto-me, qual casca de noz desamparada e acossada pelos ventos da História.
Sinto-me como o vosso pensador, Padre António Vieira, tão acossado, tão humilhado e ridicularizado no seu tempo por defender a dignidade dos escravos, por perceber o rumo progressista da História.
Sinto-me como o padre Anselmo Borges, tão criticado por ter uma visão própria sobre o fenómeno de Fátima. Sinto-me, à imagem do padre Mário de Oliveira, acossado pelos ventos do tradicionalismo, mas nunca desistindo da sua cosmovisão, do seu ideário de progresso e de lucidez alicerçado na meditação e no exemplo. Sinto que ambos são réplica do Padre António Vieira.
Já nem falo no pensador católico Leonardo Boff, também perseguido e vergastado por ser puro e genuíno na procura de Cristo e de uma sã visão do Evangelho.
Quem sou eu, a quem chamam de Santo Padre (nada fiz para merecer tão exagerado cognome...) para estigmatizar seja quem for, em nome de um Deus que sentimos dentro de nós mas que não nos deu nenhuma mensagem própria.
Sei lá se daqui a um século, conceitos como o purgatório, o celibato de padres e freiras, serão olhados como ridículas e hipócritas manifestações de "piedade", quando poderão ser distorções à Natureza, capazes de gerar situações pouco lícitas, pouco éticas, pouco recomendáveis. O futuro, tem sido tantas e tantas vezes algo de desmistificador...
Será que o conceito de infalibilidade papal, se legitima, quando sei bem as minhas limitações, os contornos cada vez mais difusos do conhecimento e da ciência? Será ousadia questionar a sua existência ainda hoje?
Lembro o conflito fratricida em Portugal entre D. Pedro e D. Miguel e a postura de um Papa que, ao tomar partido pelo absolutista d. Miguel, o fez de uma forma tão cruel, tão ingénua e tão pouco prudente, que ainda hoje a todos nos causa vergonha e é motivo para vos pedir a todos o perdão. Sim, peço perdão por esse comportamento despótico, insano, ilegítimo.
Será que um Papa deverá imiscuir-se nos assuntos internos dos povos e das nações? O Papa não é, nunca foi o dono da Verdade!
Peço a todos que compreendam esta minha humildade natural e pacífica. Em relação às guerras pelo mundo inteiro só espero que acabem o mais depressa possível, que haja a humildade de pedir perdão__ como eu o faço em relação à instituição que sirvo__ pelos erros cometidos (por todas as partes envolvidas) e se encontre uma solução pacífica. Todos os povos merecem a paz. Todo o mundo deve respirar o sol da liberdade. Todo o ser humano deve nascer, viver e morrer em liberdade.
Que Deus __ cuja mensagem tantos e tão variados crentes, tantos e tão heterogéneos pastores de todos os credos procuram transmitir__ nos inspire a fazer da nossa Casa Comum, algo de sustentável, de habitável por muitos e muitos anos...
Deo Gratias...»