É uma fácil constatação a existência de racismos em Portugal. A ministra da justiça vem dizer isso e todos nós, de boa mente, aceitamos o facto. Veja-se o Dr António Costa, primeiro-ministro, que culpa teve que a sua Mãe se tivesse apaixonado por alguém brilhante de espírito mas com pele mais "bronzeada"? Que mal fez ele para lhe chamarem alguns nomes feios, indignos de alguém minimamente civilizado?
Um homem inteligente, honrado, culto, sempre sorrindo para as adversidades, fazendo consensos entre os deuses e os diabos que vão surgindo no sue quotidiano, que culpa tem de ter a pele "bronzeada" o ano inteiro?
Só mentecaptos podem achincalhar alguém pela simples cor da pele.
A deputada Isabel Moreira, uma figura esbelta, digna de figurar no Paternon, como estátua grega, em mármore de Pallos, uma figura polémica mas intelectualmente brilhante, só porque tem determinadas opções nos domínios da sexualidade é acoimada disto e daquilo em tom escabroso e ordimário! Que corja, que pulhice este desbragamento de linguagem!!!
que me importa a mim que ela aprecie as pessoas que comungam da sua opção? Se eu pertencesse à confraria do bacalhau ficaria satisfeito em ver um seu membro eleito ministro ou presidente de câmara. Naturalíssimo. Que mal faz ela por ter essa apetência, que mal pode trazer à economia nacional ou ao nosso património cultural essa vertente? Os que tanto apregoam a palavra liberdade são por vezes uns Frei Tomás de lana caprina.
A senhora ministra da justiça tem a cor ainda mais "bronzeada" que o primeiro ministro. Que mal faz ao país? Aquele rosto esculpido em ébano puro, irradiando sabedoria e simplicidade genuína, aquele olhar doce capaz de criar empatias e afetividades, um pensamento brilhante, lúcido, esclarecido, que nos dá uma sensação de segurança, de paz, de serenidade, é visto por alguns com insana preocupação, com raiva e medos.
As níveas pernas de Assunção Cristas, dignas de serem eternizadas em mármore de Carrara, foram alvo de chacota estúpida quando ela se atreveu a calcar umas uvas na região do Douro...Gente medíocre, bárbara, sem abertura de espírito, recalcada e indigna da modernidade e da civilização que se pretende.
Neste momento estou escrevendo um livro cujo cenário é o Vaticano e passa-se em 2050.
O Papa João Paulo III e o líder muçulmano Mohamed Faysal debatem na televisão os ventos de mudança que se vão operando. O Papa é casado e tem duas filhas lindíssimas. O líder muçulmano foi um dos impulsionadores da erradicação das burkas...
Ouçamos este saboroso diálogo:
Papa:__ Eu autorizei que a minha filha Simone, fosse exibir-se conjuntamente com as suas colegas de turma, num baile de caridade, em que a chamada "dança do ventre" e a "dança dos véus" foi uma das partes do sarau. Tudo, como é óbvio, dentro das normas de estética e de moral vigentes, naturalmente. Era uma sessão de caridade e correu tudo muito bem. Toda a gente gostou.
Mohammed Faysal:__ O que mais me repugnava naqueles tempos medonhos de imperialismos teocráticos, de mortandades estúpidas norteadas por belicismos pseudoreligiosos, era ver as mulheres muçulmanas, oriundas de Londres, a entrarem nas casas de banho dos aviões que iam para Teerão e tirarem as suas roupas para aparecerem com burkas na sua terra de origem. Que hipocrisia, que patologia, que insensatez. O corpo é a embalagem do espírito, a roupa é a embalagem do corpo. Não é a roupa que vai melhorar o corpo ou o espírito. Nascemos todos nus e só preconceitos e falsos pudores criaram situações degenerativas. Alá é grande e sabe que um corpo saudável de uma mulher não tem nada de pecaminoso. Eu ainda não fui a uma exposição de quadros onde aparecem nus artísticos, mas talvez ainda vá e ninguém deve levar a mal pois os ventos de mudança que catapultaram a humanidade para este patamar de desenvolvimento técnico mental e civilizacional, devem ser aproveitados por todos nós.
PAPA João Paulo III__ Ainda recordo a onda de solidariedade que se gerou após o tsunami que atingiu Lisboa em 2035. Os muçulmanos portugueses, sempre tão bem tratados na capital portuguesa, pediram ajuda à comunidade mundial. Foi reconfortante ver que no caso de uma tragédia daquelas, a união entre todos, cristãos, hindus, muçulmanos, todos irmanados numa ânsia de solidariedade, permitiu que os efeitos fossem espetaculares. O tsunami foi de menor intensidade que o habitual pois o epicentro foi distante e a certa profundidade. Acresce o facto de a arquitectura lisboeta ter reagido bem ao impacto da gigantesca vaga.
Mohammede Faysal - Sei que alguns ainda não estão preparados para ouvir isto, mas há que, em nome da sacrossanta liberdade, permitir que mulheres e homens possam satisfazer a sua ânsia de libertação com parceiros do mesmo sexo, e não, do sexo oposto, como a maioria de nós. Também já implementamos medidas, em nome dessa sacrossanta liberdade, para que os nossos filhos possam optar por outra religião se assim a sua consciência (que foi um dom de Alá) isso lhes ditar. A cidadania é o substrato civilizacional básico. As religiões surgem enquadradas numa atmosfera de religiosidade própria, ninguém deve ser privado ao direito de escolher a sua religião ou até, de não ter nenhuma. Somos inquilinos do planeta, ninguém deve impor aos outros normas de conduta violadoras de princípios elementares de cidadania universal.
Papa João Paulo III__ Recordo aqui o pavoroso incêndio que destruiu parte da cidade do Cairo há dez anos, precisamente a 1 de Agosto de 2040. Todo o mundo se uniu para o combate aos fogos. Aviões de todo o mundo surgiram e a regeneração da cidade foi tão rápida que todos se espantaram. O Vaticano implementou um plano de emergência que galvanizou tudo e todos e este nosso Forum de Cidadania e Religião foi de uma importância estratégica fundamental para aglutinar apoios e socorros. Os nossos esforços vão no sentido de que os belicismos doentios sejam substituídos por impulsos solidários, por uma guerra santa contra a fome, a injustiça social a discriminação, a doença, a marginalidade e todas as formas de intolerância que possam persistir ainda hoje. Queremos construír, em conjunto, o edifício da modernidade com traves mestras de tolerância, liberdade, amor ao próximo. Nesse edifício cabe também o laicismo e o agnosticismo. todos são bem vindos a este Forum de Cidadania e Religião.
Nota final: Talvez nunca seja publicado este livro, mas há sempre uma gaveta acolhedora que o protegerá, como um sarcófago protector na gigantesca pirâmide do Tempo...
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