O GRANDE CHICO DOS PENACHOS
(FICÇÃO)
Chico dos Penachos era um génio. Manipulava a opinião pública com mestria. quem olhava para ele, via um pacóvio, sem atributos especiais, sem qualidades humanas. sem cultura, contudo, era um grande ilusionista. Sabia fazer-se passar por anjinho, por imaculada virgem, por semi-deus. Agora, aos comandos do "Milhafre de Olisipo" tinha refinado o seu perfil de ilusionista. Aliado ao seu amigo George Tendes, ele sacava fortunas em comissões (ou melhor, fazia outros ganhar fortunas, mas actuava no sub-solo, ganhava também mas dando a ilusão de que não recebia nada). Enfim os testas-de-ferro eram para as ocasiões. E tinha muitos e bem pagos para fazerem tudo nos domínios mais diversificados: no jornalismo, na justiça, na arbitragem, na fiscalidade, enfim, onde era preciso agir com ilusão...
George Tendes tinha qualidades de ilusionista ainda mais relevantes, conseguia evadir-se e fazer evasões de todas as prisões fiscais do mundo. Era um artista, nem o célebre Houdini lhe chegava aos calcanhares. Evasões era com ele...
Tinham uma sólida estratégia: a culpa seria sempre imputada aos treinadores, desse o que desse, a culpa era do treinador que pagava sempre as favas. Depois, era só reconverter o stock de jogadores: ia ao supermercado e comprava produtos com defeito mas usava com mestria a comunicação social, a quem pagava fortunas, para dar a ilusão de que eram tudo craques de alta sofisticação, de alto gabarito, produtos de primeira qualidade!! O certo é que resultava sempre...
Um dia as coisas complicaram-se. A justiça sempre atenta, sempre no seu encalço, via-se negra para o apanhar nos passes de mágica, mas ele tinha aliados, e bem poderosos, dentro dela. Gente paga a peso de ouro, gente venal, gente sem ética. A coisa começara a ficar preta. O processo ia criar problemas pois as eleições estavam a aproximar-se. Ele reuniu-se com Tendes e disse-lhe:
__Vou usar aquele velho truque do "Resgate do Messias", vou buscar o Salvador da Pátria, ao Brasil... pois ele agora está em estado de graça e sendo bem pago__ (e quem pagaria era o Milhafre de Olisipo, não ele, Chico) __ virá, certamente.
O dinheiro para ele, é como um íman!
E assim foi. Não mandou vir o Messias. Foi ao Brasil buscá-lo, pessoalmente, usou um jacto particular (pago pelo Milhafre, é óbvio)_ E disse à comunicação social, um rebanho bem treinado e bem usado nas suas lides de ilusão, que gostaria de aparecer ao lado do Messias, sempre sorridente, aos beijos e abraços, para que a populaça soubesse que fora ele a pagar e "resgatar" o semi-deus, para o trazer a Olisipo, a fim de recuperar o Milhafre, então na mó de baixo.
Mandou colocar faixas apologéticas em todo o trajecto para que o Messias se sentisse como na entrada triunfal em Jerusalém O Messias seria a sua tábua de salvação! Depois, o Messias diria que os produtos anteriormente adquiridos eram defeituosos, já estavam fora do prazo de validade, era preciso renovar o stock com urgência!!! A lengalenga do costume, e resultava sempre! Comprava nos saldos mas pagava caro, só para impressionar os incautos que, ao repararem no preço, nem olhavam à qualidade. Esta, só se veria passados uns meses, pois ele, Chico, impunha que jogassem sempre!!!
O Chicoespertismo, nasceu com ele, Chico dos Penachos, e foi um neologismo que pegou de estaca na moda literária...Consta, mas não se pode confirmar, porque estava apenas nos escaninhos obscuros da sua mente diabólica, que pretendia criar uma universidade e até por a gerir uma cadeira (de Chicoespertismo Financeiro), um conhecido juíz que caiu em desgraça por causa dele, e de outros como ele, e que lhe fazia todos os fretes possíveis e imaginários, a troco de favores, promessas, pagamento de despesas pessoais nos domínios mais incríveis...Outro génio na arte da ilusão, nos meandros complexos da justiça...
Então, após renovações sucessivas de stocks, as comissões surgiriam como corolário lógico, como efeito colateral, aos olhos da populaça. Mas para ele e o seu amigo Tendes, isso era o cerne da questão, o objectivo número um, o grande assalto...
O Milhafre de Olissipo era apenas uma montra onde eram colocados produtos para ulterior venda, não se importava com êxitos desportivos do Glorioso, o que queria , tão somente, era engordar o seu pecúlio, oculto em offshores, dando a ilusão ao sócio pagante que não tinha benefícios nenhuns com aquelas "maçadas" constantes de renovação do stock..Ilusão atrás de ilusão, ia enchendo o seu quinhão.
O culpado dos inêxitos, ele bem o sabia, era ele. Mas habilmente passava culpas, e o treinador, fosse qual fosse, era sempre o bode expiatório...E mandava passar essa imagem na comunicação social, onde uma empenhada claque de marionetas (as "picaretas falantes", como ele dizia, com ironia, sobre os comentadores a soldo...), era a sua voz (his master voice...), e dava corpo ao seu bem engendrada esquema de ilusionismo! Cada papagaio a soldo, na comunicação social, era como um megafone ao seu serviço particular. Seu, e do Tendes, pois a dupla era muito coesa e investia forte no meio, sobretudo no jornalismo desportivo.
As marionetas eram todas bem gratificadas pela máquina financeira, um gigantesco saco azul, habilmente transferido do Glorioso Milhafre, pobre Milhafre ( sempre sugado por aquele que se dizia benemérito, mas que, na prática, era um verme, um parasita, hospedeiro voraz nos intestinos do Glorioso!), para os seus domínios, numa genial mistificação de puro ilusionismo financeiro, a fazer lembrar aquela célebre evasão de Al-Beca que deu brado e ainda paira na memória das gentes.
Enfim, especialista na manipulação, usou a comunicação social__ também colaboradora no espectáculo de ilusão pura...__ para branquear as suas malandrices que lesaram o Milhafre em todos os domínios, até que um dia...
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