Os jornalistas integros e sérios vão rareando. O poder asfixia a liberdade, condiciona, vai devorando a alma do jornalismo. Os patrões dos media sabem que também têm patrões. Os governantes sabem que podem manipular a informação através dos donos das rádios, dos jornais e das TV's. Infelizmente desde o cacique local, manhoso e astuto, fazendo ameaças e prometendo facilidades, até ao governante cheio de truques, capaz de manipular, intimidar e instrumentalizar os Boys a seu bel prazer este regime já viu de tudo. Operação Marquês, Operação Furacão, Apito Dourado, enfim, o rol de situações já esmiuçadas pela justiça mostra à saciedade que estamos num regime que tem tudo menos democracia. Isto é o vale tudo. Alguém, certamente estupefacto com a desfaçatez com que alguns pretendiam controlar tudo e todos, chegou a afirmar que estaríamos perante um "atentado ao Estado de direito!"
E, depois, os responsáveis por estas vicissitudes aparecem quais vestais imaculadas, a invocar inocência, a dizerem-se vítimas de juizes e de jornalistas justicialistas. Já ví vítimas desta censura a lamberem as botas aos seus carrascos, mais tarde, sabe-se lá a troco de quê?!
Quando o PR vem pedir aos jornalistas para serem escrutinadores implacáveis saberá ele o pântano em que se movem os jornalistas? Ele foi jornalista mas noutro nível, noutro patamar...
Marcelo pede o "impossível" aos jornalistas! "Escrutinar" de forma
"implacável" as instituições, vivendo na precariedade, com a espada de
Dâmocles do desemprego sobre a cabeça?! Os patrões mandam e eles
obedecem. Limitam-se a uns artigos de opinião encomendados para engraxar
o governo, apaparicar os caciques locais, incensar o clero, endeusar as
vedetas da bola e seus empresários.
"Crónicas de bem dizer" (lendo bem
nas entrelinhas, tratados de botas bem lamber...) é o que resta
ao jornalismo que já não pode ser isento, íntegro, implacável com os
abusos do poder. Dar graxa, bajular, manipular, endeusar alguns donos
disto tudo é a última moda em jornalismo.Vamos condená-los por isso?
Esses precisam de viver, precisam do seu uisque para beber, do seu
Jaguar para se pavonearem, das suas férias nas Seychelles ...Escrutinar de
forma implacável, no actual contexto é pedir guia de marcha para o
desemprego, para engrossar o caudal dos sem abrigo. O jornalismo
capitulou e sabe-se porquê.
O Titanic Portugal está a afundar-se, ao longe vislumbra-se o icebergue-dívida, mas é preciso que o povo não tenha a noção disso, é preciso música, música, música.. E nevoeiro, muito nevoeiro, bebidas, festas, futebol e música...«Pão e circo», a panaceia universal, continua... desde o tempo dos romanos...
Ramos de Barros
militante da cidadania, sem abrigo partidário
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