quarta-feira, 15 de novembro de 2017
Aristóteles sempre em festa......
A vida do engº Aristóteles mudou um pouco desde que a justiça __ sobretudo graças ao juiz Alexandrino Salomão__ começou a aprofundar o seu modus operandi. As escutas foram denunciando laços e teias de cumplicidades. As investigações prosseguiram e aprofundaram os fluxos financeiros, suas origens, datas, destinos. Foram comparadas datas de determinadas decisões e eventuais beneficiários delas. Havia uma técnica muito sui generis para despistar as autoridades: o circuito era complexo e havia o recurso a testas de ferro que funcionavam como intermediários, não sabendo, eles próprios, muitas vezes, quem era o destinatário final dessas vultuosas verbas.
A rede era complexa e diversificada. Os fiduciários usados recebiam uma percentagem do volume transacionado (a título de subsídio de risco), Contudo, nem todos usavam a discrição necessária e os contornos foram-se avolumando de forma alarmante tornando certas transações alvo de suspeita. A justiça ia fazendo o seu trabalho com meticulosa prudência.
Paralelamente, o jornal «Corneta da Tarde», sempre sequioso de presentear os fiéis leitores de novidades neste domínio tão sensível, ia dando conta de movimentos estranhos na vida do engº Aristóteles. A opinião publica ia sendo preparada para algo de surpreendente e colossal. Ia divulgando coisas aparentemente impensáveis para os ainda crentes na figura imaculada do engenheiro, que, usando a vasta rede de amizades (cumplicidades?) na comunicação social dava-se ares de vestal imaculada dizendo que vivia à custa da mãe e de uma pequena herança. Contudo, as exibições de poder financeiro eram constantes. Aqui e ali os seus mais íntimos (e íntimas) iam-se interrogando sobre a real origem desse pequeno império financeiro.
Uma amiga, Ferdinanda Cansado, foi escutada pela PJ a exclamar, perplexa, ao telefone:
«Não é muito vulgar um engenheiro que foi político de nomeada, ter casa em Paris e montes de massa...»
Ele sorria e disfarçava, dizendo que era tudo boa gestão de fortuna familiar. Tudo adentro das normas, nada de anormal. Não queria espantar a caça, levantar lebres, pois sabia que a "Corneta da Tarde" andava a pesquisar tudo sobre os movimentos suspeitos em seu redor. Escrutinar o poder, sem tergiversar, era o lema do referido jornal que não tinha pruridos e aprofundava as questões com rigor e objetividade. Esquerda ou direita, para a "Corneta", não fazia diferença. O rigor era igual. Muito embora o engº Aristóteles propagasse o contrário. Ele acusava o jornal de perseguição pessoal, aliança espúria com a justiça para uma vendetta personalizada na sua pessoa. Chegou mesmo a admitir que o seu processo e a investigação ao seu património nada tinha de normal, era apenas uma forma de decapitar o seu partido e impedir que ele próprio fosse candidato a presidente da república. E esta tese chegou a ganhar foros de verosimilhança junto dos seus apaniguados, tal a insistência nela.
Até que um dia, a sua ex-apoiante, Anita Gomez, fez uma declaração pública hostilizando a criatura e os seus métodos. Segundo ela, era suicidário o comportamento de alguns no aparelho partidário, que não se apercebiam de que o engº Aristóteles estava a usar o seu partido para reforçar a vitimização, fazendo crer que era uma vítima de campanha político-partidária. Era uma subtil forma de parasitar o partido, que devia ficar bem a leste desta embrulhada.
Esse objetivo foi atempadamente travado. Mas nem todos seguiram o aviso. Outros, por amizade, gratidão política, ou por desejo de protagonismo fácil, continuaram a dar eco a esta vitimização promovendo jantares de louvor e de homenagem (estilo reparação moral, desagravo) ao engº, usando o mediatismo como força intimidatória.
Enfim, o engº Aristóteles, sentindo que precisava cada vez mais dos holofotes mediáticos e estes começavam a ser mais comedidos, usou uma nova estratégia. Começou a trilhar o caminho da fama à custa da publicação de livros. Ou seja, para ter um pretexto para usar a arma mediática para enfrentar melhor a justiça, passou a escrever livros em catadupa e cada lançamento era uma arma de arremesso à justiça. Estratégia pouco ética, mas de forma maquiavélica, sentindo que os fins justificam os meios, lá foi por ali fora, sem olhar a gastos, a cumplicidades, a estratagemas, a embustes...
Muito embora já chamuscado pela comunicação social que via nele um trambiqueiro, um embusteiro, um arrivista sem escrúpulos (sobretudo aquando do processo da licenciatura, envolvendo um exame por fax e outro alegadamente feito ao domingo...) ele enveredou pela via costumeira: o espertismo.
Não teve medo de ser de novo desmascarado. Coragem ou irresponsabilidade?!
O vício é terrível. Cesteiro que faz um cesto, faz um cento. Ser embusteiro já fazia parte do seu ADN e não iria abdicar dele. Não receou que se descobrisse, que desse para o torto, que os próprios colaboradores dessem com a língua nos dentes ou que uma falha qualquer denunciasse esse mistificador comportamento. Enfim, o espertismo, a audácia tonta, o ingénuo e manhoso calculismo arrivista no seu horizonte...Os fins (fama, holofotes mediáticos, a glória no tecido intelectual, o aplauso acéfalo das hostes...) sempre a justificarem os meios ardilosos, capciosos, mercenários...
Enfim, aquilo estava-lhe na massa do sangue. Era imparável o recurso a artimanhas, falsidades, habilidades tontas de um desesperado. Esquecia, imprudentemente, que havia forças escrutinadoras no seu encalço e no encalço de todos os seus interlocutores. Ele era um alvo a abater. Havia sede de justiça em muitos segmentos: na política, na comunicação social, na justiça.
Um livro que fez publicar e que intitulou de «Carisma, o meu talento», foi escrito pelo professor Forninho, um conhecido professor universitário de Coimbra. Tudo pago a peso de ouro como era seu hábito. Não queria que os seus colaboradores se queixassem de falta de incentivos financeiros. Ele agora era um mãos largas, um magnânimo, um mecenas; essa faceta iria ser um dos seus calcanhares de Aquiles, pois toda a gente achava estranho tal comportamento. Lá diz a sabedoria popular «quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado lhe vem!»
E, por muita amizade que se tenha a alguém, este exibicionismo choca e lança sérias suspeitas sobre a idoneidade de quem assim procede. Acresce o facto de haver circuitos sinuosos a percorrer, barrigas de aluguer e fiduciários aos montes. Logo, tanta prodigalidade e tanto secretismo são sempre o tal fumo que prenuncia o fogo. quem se mete nestas coisas, sabe-se, corre o risco de se queimar mais tarde ou mais cedo.
Enfim, cada qual sabe as linhas com que se cose. Mas quem está viciado (é o termo mais objetivo para classificar esta "praxis") nestas andanças não teme a intromissão do longo braço da lei, ou melhor, julga que, usando alguns estratagemas e linguagens codificadas, nada de grave acontecerá, nada de anormal surgirá no horizonte. Irresponsabilidade ou confiança cega nas suas virtualidades?!
Ambas as coisas certamente.
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