Falar de patriotismo, no contexto actual, quando inseridos no espaço europeu e com as metamorfoses criadas pela globalização e pelas vicissitudes geradas nos mercados financeiros e paraisos fiscais é diferente.
Quando Fernando Pessoa disse «a minha pátria é a língua portuguesa!», todos ficamos pasmados a contemplar o sábio, ninguém ousando contestar a doutrina do Mestre!
Contudo, se fosse eu, cidadão modesto e sem auréolas de qualquer espécie, ou você, amigo leitor, talvez as censuras fossem às dezenas:
Como assim:
- Afirmação redutora e infeliz, pois a pátria é um conceito muito mais abrangente.
- Afirmação pouco correta, na medida em que esquece outras facetas, como a história, as tradições, os usos e costumes, os heróis e santos, o desporto, a nossa idiossincrasia vocacionada para a miscigenação racial e para a fraternidade universal...E por aí adiante...
Mestre dixit, já ninguém ousa contestar!
Enfim, o conceito de Pátria é algo de muito mais amplo do que aquele que referiu (e muito bem) Fernando Pessoa.
Diz-se amiude, que o "dinheiro não tem pátria!" Daí que para fugir aos impostos muitos cidadãos fogem do seu país e vão para locais como o Mónaco, Holanda, Panamá, Ilhas Caimão ou Suiça onde há certas regalias nomeadamente na banca, que podem potenciar a fuga a impostos e coisas afins.
Pagar impostos ninguém quer. Patriotas que ficam no país arcando com todas as vicissitudes de um estado endividado e empobrecido como o nosso, nesta encruzilhada histórica, podem ser considerados__ por quem saltita com o seu dinheiro de paraiso fiscal em paraiso fiscal__ de idiotas, ingénuos ou estúpidos.
O excesso de patriotismo, que atingiu o patamar do ridículo com o francês Chauvin (VER AQUI)
também é censurável. Vemos por aí as façanhas de guerra de alguns dos nossos soldados, que, de tão hipertrofiadas, e por vezes pouco credíveis, roçam o caricato.
Não comungo desses sentimentos hiperpatrióticos nem hiperdemocráticos como se vê da parte de alguns autarcas e governantes deste país. As obras feitas foram-no com dinheiros de todos nós e com a colaboração de técnicos de todos os quadrantes. Há uma interacção, uma comunhão de esforças no sentido de melhorar as condições de vida das populações.
O autarca que, no palanque da imodéstia, no pódio da fanfarronice, diz : «eu fiz esta obra e aquela, esta estrada, aquela estátua, aquela rotunda, este museu, aquela avenida ou marginal» não passa de um vaidoso e megalómano pois as obras são de todos, incluindo da própria oposição!
Espírito bairrista é de todos, mesmo daquele que nunca foi às inaugurações nem bebeu da taça do poder; pois o esforço é coletivo e todos demos a nossa quota-parte para o progresso. Alguns, que se arvoram em "pais" do progresso local, foram "pais", muitas vezes, de grandes golpadas e de fortunas milionárias para alguns ligados ao ramo da construção e obras públicas! Vêmo-los por aí arrotando postas à custa do erário público e de "obras a mais"...Tiveram o cuidado de ser "generosos" passando a mão pelo pelo do autarca e, quiçá, do partido do autarca...
Ser patriota, ter amor à terra, pode revestir diversas formas. Nem todos os actos de exibicionismo visando capturar para si próprio o carisma de "bairrista" ou "patriótico" são aceitáveis, alguns, não passam de megalomania balofa, de narcisismo parolo, revestindo aquilo a que os franceses chamam de chauvinismo! Eles, franceses, fartaram-se das fanfarronadas do multicondecorado soldado Chauvin e colocaram-no no pedestal do ridículo! Vemos muitos Chuvin entre nós!
Vemos tantos patriotas a passar sempre as férias no estrangeiro, a fazer compras em países de fora, ter as suas economias em paraisos fiscais ou paises estrangeiros, ter as sedes de empresas em países da estranja, que cheira a chauvinismo esse exibicionismo pateta.
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