quarta-feira, 6 de setembro de 2017

OS LIMITES DA DECÊNCIA

Alguns pretendem fazer dos padres comissários políticos. Querem instrumentaliza-los, fazer deles porta-vozes e tentáculos do poder político. Os mais ingénuos (ou mais oportunistas) deixam-se conduzir. A ambição, o desejo de protagonismo mediático, leva alguns a comer o fruto proibido. O Jornal de Notícias de hoje , 26 de setembro, dá conta de uma oferta de 350 mil euros do PS à paróquia de Leça da Palmeira. E dá conta também do agradecimento feito pelo pároco na missa dominical  de 24 de setembro. Esse agradecimento feito num contexto eleitoral não será censurável? A Vinha do Senhor é plural e tem crentes em todos os segmentos políticos e partidários. Para quê quebrar a isenção e o rigor que devem imperar nestas épocas? Porquê ceder ao eleitoralismo desbragado, ao servilismo, à genuflexão perante o poder político?
Não é digno quem se presta a esta vassalagem.
Já conheci um padre que no próprio dia das eleições,  agradeceu na homilia dominical a dádiva de cinco mil euros para a igreja paroquial. Contou-me particularmente que foi pressionado. Nada disse na primeira missa e recebeu a visita de um emissário do presidente da câmara de Vila do Conde que o "aconselhou" a ler nas outras missas pois poderia o presidente da câmara exercer "vingança" sobre a paróquia.
Isto passou-se na Junqueira, Vila do Conde. O pároco cedeu à "chantagem" para defesa da paróquia perante o receio de vinganças ou retaliações. Disse-me que sofreu antes de tomar a decisão. Sabia que estava a prejudicar a imagem de isenção e de neutralidade que deve ser apanágio da Igreja, mas cedeu. A sua consciência cívica dizia-lhe que podia agradecer por escrito ou na missa seguinte ao ato eleitoral mas a pressão exercida pelo emissário do presidente fora tão forte que optou por defender os interesses da paróquia. Será que o poder político tem razões que a razão não aceita?!

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